domingo, 10 de fevereiro de 2008

Escolhendo A Minha Vida


Escolhendo A Minha Vida

As escolhas de cada dia nos levam, por vezes, a caminhos tortuosos, desconhecidos. O desconhecimento de onde podemos chegar com tais escolhas e o medo que dele advém, na realidade, são os verdadeiros impedimentos para “seguir adiante”. As opções e ações que destas provêm ficam, então, paralizadas momentaneamente ou são aceleradas pelo desespero.

Por que muitas pessoas vêem as ESCOLHAS como entraves ao seu crescimento enquanto seres humanos?

Por que as ESCOLHAS são percebidas como dificuldades e não como facilitadoras de um viver mais saudável e responsável?

O que significa ESCOLHER?

Este texto se propõe a ser um desencadeador de reflexões sobre este tema tão relevante, posto que escolhemos a cada instante. Também as escolhas são um desafio: a cada momento escolhemos SER o que SOMOS... e a nossa constante construção no dia-a-dia é um desafio que assumimos a cada instante de nossas vidas.

Um grande escritor francês chamado Jean-Paul Sartre, certa vez disse: “A liberdade é aterradora”. Em meu primeiro período na Universidade de Psicologia, já há muitos anos atrás, me pus a pensar sobre esta pequena frase. A liberdade pressupõe a ESCOLHA, já que temos o livre-arbítrio para seguir pelo caminho que quisermos. Se nos voltarmos para nossa Adolescência, por exemplo, recordaremos o quanto a vivência da escolha era intensa nesta fase. No entanto, nesta fase, o desejo de liberdade, de afirmação do que se pensa, sente está em consonância com a afirmação da personalidade, que muitas vezes ocorre em contraposição àquilo que os adultos (principalmente os pais) pensam, falam e sentem.

Escolher roupas, amigos, novos comportamentos, eram marcas daquela fase em que o EU se sobrepunha ao TU. Já alcançando a vida adulta, as ESCOLHAS vão se modificando e os seus motivos já não mais se tornam focados na afirmação de uma personalidade em construção. O ato de ESCOLHER transforma-se no que Sartre chamava “aterrador”, para muitos adultos. O preço da escolha já não é mais o sabor da “aventura”, senão o sabor de viver e ser responsável pela vida que se vive.

Na realidade, a responsabilidade sempre existiu, desde os tempos mais remotos. No entanto, ela cresce na medida em que também crescemos em maturidade e liberdade de agir. Os pais vão aprendendo a “delegar” aos filhos a responsabilidade por suas próprias vidas. Os filhos começam a aprender o que é ser responsável por suas atitudes. A responsabilidade existe e também a consciência sobre aquilo pelo que sou responsável. A capacidade de escolha aumenta na medida em que a maturidade e a consciência de que somos RESPONSÁVEIS e NÃO CULPADOS por nossas escolhas e atitudes, se desenvolve. Aliás a CULPA é um dos nossos principais inimigos em qualquer processo de ESCOLHA e CRESCIMENTO.

E o que é sentir-se culpado, senão sentir uma enorme onipotência? Sim, se eu sou culpado de algo tão grande assim, sinto um enorme poder de agir e “atrapalhar” a vida de muitas pessoas. Esqueço-me de que estas pessoas também escolhem viver e agir, que também pensam, sentem, atuam. Não somente a mim cabe o processo de escolha, senão a todos os seres viventes deste planeta.

O sentimento de CULPA também me impede de seguir adiante. É um pedido de “adiamento”. É um atestado de “não posso escolher, sinto-me culpado, confuso, etc.” Portanto, não estou apto a escolher neste momento. E assim, matenho-me numa “corda bamba”, na angústia de não estar aqui nem lá e de viver em duas ou mais realidades paralelas, sem optar e sem estar por inteiro em uma delas. Começa o “jogo do SE”. Se eu fizer isso, o que acontece? Se eu agir daquele modo, que irá ocorrer? No entanto, este jogo torna-se mais aterrador, posto que a realidade não é feita de respostas fixas e imutáveis. Como uma onda que vai e vem, e que a cada dia se porta de um modo: algumas vezes bravia, outras calma e tranquila, só podemos realmente saber O QUE Ë ESCOLHER, ESCOLHENDO.

E cada escolha que faço ou cada escolha que não faço, é uma escolha. Se não escolho diretamente, permito que os outros escolham por mim. Se adio indefinidamente uma escolha, permito que o outro escolha “por mim”, porque, na realidade, ele escolhe também por ele. Minha realidade encontra-se permeada por diversas pessoas. As escolhas destas pessoas também afetam a minha vida. No entanto, eu posso decidir e agir de modo a escolher a intensidade em que os outros podem afetar a minha vida.

Parece complexo, não? Mas é verdade. Imagine que você acorda todos os dias e que você, desde o momento em que desperta até o momento de dormir, faz escolhas – sejam pequenas ou grandes escolhas. Você escolhe a roupa que irá usar, o que irá comer no café da manhã, se irá comer ou não, qual será o seu humor durante o dia...sim, tudo aquilo que pensamos e sentimos são reflexos de como percebemos tudo o que vivemos. Isto também é uma escolha. Decidimos que caminho seguir em nossa profissão, casamento, filhos, amigos, em que acreditar, em que não acreditar...estes são apenas alguns exemplos. Tudo isso, são expressões do que somos enquanto seres humanos.

Nossas escolhas estão diretamente relacionadas com aquilo que acreditamos, com aquilo que percebemos e sentimos. E o que percebemos, sentimos e pensamos são também escolhas que aprendemos a fazer. Nossa história de vida está diretamente relacionada com o modo como realizamos escolhas. No entanto, ela não nos impede de avançar quando temos uma dificuldade, se decidimos realmente acreditar que no presente, no atual momento, posso aprender a fazer algo melhor e mais justo comigo mesmo: escolher minha própria vida. Não deixar que os outros escolham por mim, mas eu mesmo “segurar o leme de minha vida em minhas mãos”.

Escolher demanda desejo de viver e de atuar como ator principal em minha vida, e não como coadjuvante. É um processo que exige consciência daquilo que tenho como objetivo, meta em minha vida, por vezes a dificuldade em perceber aquilo que realmente desejo, ou a falta de energia para seguir adiante, também podem ser fatores bloqueadores da escolha. Neste momento, o processo de Psicoterapia, seja ele em grupo ou individual, pode atuar como facilitador do processo de conscientização daquilo que desejo, preciso e das energias necessárias para atuar de modo mais intenso em minha própria vida.

ESCOLHER e AGIR são processos essenciais na construção de uma vida sadia, responsável e feliz. Demanda força, coragem, consciência e energia. É um processo bonito, é o processo da vida, é o processo que me garante ser inteiramente humano – sujeito a quedas, tropeços e re-erguimentos...que fazem parte da vida. A melhor escolha que fazemos é aquela que fazemos e as que decidimos desta para frente. A melhor vida que vivemos é aquela que vivemos com consciência e responsabilidade pelo que somos.

Adriana Marques dos Santos é Psicóloga e Psicoterapeuta Corporal Reichiana

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