quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ciclos Em Nossas Vidas


Ciclos Em Nossas Vidas


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho?
Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesma que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu própria, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.

E lembra-te :

“Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão” (Fernando Pessoa)

Paulo Coelho


Jorge Vercilo - Ciclo


"Deus segue um plano ao escrever a música de nossa vida.
A nossa parte deve ser aprender
a melodia e não desanimar nas "pausas" e " contratempos".
(Lílian Tassara)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ao Diminuir Suas Expectativas, Suas Decepções Também Diminuirão



Ao Diminuir Suas Expectativas,
Suas Decepções Também Diminuirão

É muito comum criarmos expectativas sempre que estamos em um projeto ou querendo obter algum resultado de algo que esperamos ou ainda, participando de um programa de reeducação alimentar

A espera do resultado sempre gera ansiedade e expectativa. A maioria de nós sempre espera que certas coisas aconteçam de uma certa maneira. O que dizer quando estamos dentro de um relacionamento instável e ficamos sempre esperando um telefonema, a presença constante, uma atitude?

As expectativas são o que pensamos que deve acontecer como resultado do que fazemos, dizemos ou planejamos. E a decepção é inevitável quando as coisas não saem como planejamos. Você espera pelo aumento que acredita merecer.

Você espera ser amada para sempre. Deseja nunca mais ser abandonada. Espera que seus amigos a compreendam quando mais precisa deles. Espera não ser julgada nem criticada quando algo não dá certo.

Quando somos frustrados em nossas expectativas, nossos medos mais secretos podem surgir, como o medo de não mais ser amada, ser abandonada, rejeitada. A sensação de que não temos valor, que não valeu à pena a espera, que já sofremos tanto, por que de novo, por que comigo, são alguns dos pensamentos que tomam conta de nossa mente.


“A decepção é inevitável quando as coisas não saem como planejamos.”

Esperamos sem nada fazer quando acreditamos no pensamento mágico, em nossas fantasias e desprezamos os dados de realidade. Suas expectativas são coerentes com a realidade? Talvez seja uma pergunta importante para explorar.


Muitas vezes a realidade está muito distante de nossas expectativas, mas a ignoramos.

A expectativa consome nossa paciência, harmonia e equilíbrio interno. Parece que quanto mais esperamos mais difícil se torna chegar ao resultado. E nesse compasso de espera, como nem sempre temos controle de tudo, nos decepcionamos.

Nesse momento é muito comum a busca por culpados. Costumamos culpar alguém por quase tudo. Essa é uma maneira sutil de não enfrentar os próprios desejos, que em geral ficam ocultos. As expectativas não realizadas geram raiva, autopiedade, e nos colocamos no papel de vítima.

Pensamos o quanto o outro foi injusto. Pode até ser que tenha sido mesmo, mas será que não recebemos sinais de que isso poderia acontecer e os desprezamos? Será que é a outra pessoa que nos decepciona ou nós que esperamos algo que nem sempre podem nos dar? Claro que depende do caso. É diferente da situação no trabalho quando alguém te prejudicou seriamente.

Outro conflito muito comum gerado pela expectativa é quando esperamos alguma atitude de alguém e não expressamos o que queremos, como se o outro tivesse a capacidade de ler nossos pensamentos. Um exemplo muito comum é do marido ao chegar em casa depois de um dia de trabalho. A esposa está preparando o jantar, esperando que o marido ao chegar irá lhe dar um abraço e ele ao ver sua seriedade pensa que ela deve estar envolvida com o que está fazendo e para não atrapalhar, a cumprimenta rapidamente com algumas palavras.

Conclusão: os dois queriam receber um abraço, mas como reagiram de acordo com os próprios pensamentos, imaginando o que o outro estaria pensando, ambos acabam se frustrando. O mesmo pode acontecer com quem faz um programa de reeducação alimentar. Espera que os demais membros da família adivinhem o quanto está sendo difícil manter os novos hábitos, principalmente enquanto todos desfilam com seus pratos recheados de tudo que adora comer. Será que eles imaginam sua dificuldade? Nem sempre as pessoas sabem exatamente como nos sentimos. Por isso, o mais indicado é identificar suas expectativas. Ao dizer: “você me ignora quase toda noite ao ficar assistindo televisão” é muito diferente de dizer: “eu me sinto ignorada quando você fica assistindo TV”.

Quando as expectativas não são expressas tendemos a fazer um julgamento impulsivo diante do comportamento do outro e que nem sempre corresponde ao que o outro desejava demonstrar. Verbalizar suas expectativas é importante em qualquer relação. Como o caso citado acima de quem faz uma reeducação alimentar.

Pactos de silêncio acontecem muitas vezes sem que percebemos e geram muitos conflitos. Todos nós queremos que as coisas aconteçam de um certo modo, mas quando este desejo não se realiza ficamos irados e sequer conseguimos pensar. “As expectativas podem nos mover, motivar, mas também nos destruir internamente.”

As expectativas em geral nos deixam com uma venda nos olhos, não conseguimos enxergar a situação em sua totalidade e podem impedir nosso crescimento e a capacidade de manter relações saudáveis.

Quando foi a última vez que você se sentiu frustrada porque alguém não agiu como esperava? Você culpou a outra pessoa mesmo ela não sabendo o que você esperava dela? Geralmente quando culpamos alguém é porque tínhamos expectativas de que aquela pessoa “deveria” ter agido de maneira diferente do que fez. As expectativas sempre nos deixam fora de controle.

Quando compreender que não é responsabilidade de ninguém “adivinhar” o que você quer seus conflitos podem diminuir. Quando nossas expectativas são um fator primário na maneira em que pensamos, ouvimos, falamos, a decepção se torna uma constante.

E quando as expectativas de nossos próprios comportamentos são frustradas? É muito doloroso manter a expectativa enquanto percebe que o tempo passa e que seu desejo está longe de ser alcançado. Você aguarda e aguarda, até desistir.

Mas, o que tem feito para alcançar efetivamente o que deseja? Muitas pessoas simplesmente ficam em compasso de espera, acomodadas ao velho e conhecido padrão antigo de comportamento, como se não dependessem delas para que as coisas aconteçam como deseja. É certo que há situações que somos impotentes ou quando esperamos a atitude de alguém, mas, ainda assim, se criar expectativas em relação ao comportamento de outra pessoa, estará no caminho mais seguro para se decepcionar e se frustrar.

As expectativas podem nos mover, motivar, mas também nos destruir internamente. Quanto mais expectativas criarmos, mais estaremos propensos a nos decepcionar. Pense sobre suas expectativas, em que áreas elas aparecem mais? O que você tem feito para que se realizem? Se quiser se aprofundar mais, escreva sobre cada uma de suas expectativas não realizadas e veja se eram coerentes com a realidade.

Talvez você descubra coisas novas sobre si mesma. Talvez aprenda a aceitar o que realmente está acontecendo e como lidar com a situação. Nem sempre as coisas acontecerão da maneira como desejamos, mas, nem por isso devemos parar de lutar e desistir. Talvez seja um sinal de que o mais indicado é mudar o caminho e não seu destino em chegar onde deseja.

Rosemeire Zago é Psicóloga Clínica

Pedro Camargo Mariano - Voz no Ouvido


Eu faço as minhas, e você as suas.
Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas.
E você não está neste mundo para viver as minhas.
Você é você, e eu sou eu,
e se, por acaso, nós nos encontrarmos, será lindo.
Se não, nada se pode fazer
(Frederich Perls)

Ei, Cabeça Dura!



Ei, Cabeça Dura!

Convido-o para um papo de “cabeça dura para cabeça dura”. Afinal, quem de nós não se comportou assim ao menos uma vez na vida?!

O que não quer dizer que uma vez cabeça dura, para sempre o seremos. Isso pode acontecer em diferentes quantidades e intensidades para cada um. Mas ileso ninguém está.

Hoje, pela manhã, ouvi no programa de rádio da Mundial-FM, a psicoterapeuta Maura Di Albanesi discursando sobre a baixa auto-estima: “muitas vezes quando as pessoas pensam que sua auto-estima está tão baixa... é aí que está muito elevada, a ponto de não aceitarem críticas, repelindo-as; não estarem abertas a relacionamentos, culpando as outras pessoas pelas suas carências; e pior, inflarem seu ego com elogios e colocarem-se nas mãos da outra pessoa, submetendo-se aos seus desejos, em busca de mais elogios...”

São tantas as formas que usamos quando nos comportamos como verdadeiros “cabeças-duras”!

As frustrações, decepções, sensações de ira e quase todos os sentimentos desagradáveis (ou seriam todos?) não são derivados das atitudes das outras pessoas em relação a nós mesmos; pelo contrário, derivam da nossa atitude em relação às pessoas.

E então o que fazemos? Ai, coitadinho de mim! Probrezinho, tão injustiçado! Como pôde fazer isso comigo? Mas porque logo comigo isso foi acontecer?

Quem não conhece essas frases? Quanta dó conseguimos sentir do nosso próprio umbigo.

Vá em frente, cabeça dura! Pare de queixar-se! A tua vida vale muito pra você desperdiçar um minuto sequer patinando no mesmo lugar!

Os dissabores nos servem de aprendizado. Agradeça-os! Assimile a lição e tenha uma atitude diferente na próxima vez. Ação semelhante, reação semelhante. Vira um ciclo. Se você quer que algo mude, comece por si mesmo. Se você quer que alguém te ame, tenha tanto orgulho de si próprio a ponto de despertar a atenção de alguém.

Se você parar no meio de uma movimentada avenida, numa praça ou qualquer lugar público e começar a olhar para o alto, várias pessoas começarão a procurar o que será que você está olhando!

Da mesma forma você pode atrair a atenção para você. Ao invés de olhar para o alto, olhe para dentro de si, aceite-se, admire-se e ame-se exatamente da forma como você é. A altura do fulano não é a sua; os cabelos da ciclana não são os seus; o carrão do beltrano é dele; a carreira, as habilidades e tudo o mais que é do outro e se torna objeto de cobiça só nos afastam dos nossos próprios dons, virtudes e qualidades.

Aceite-se, admire-se e ame-se exatamente da forma como você é, com suas limitações e imperfeições. E você vai passar a enxergar quanta coisa boa, quantas qualidades estão escondidas aí dentro de você e fará com que as outras pessoas também percebam e valorizem.

Simplesmente aceite esse ser singular e único, criação de Deus, que você é!

Eliane Cariste Crepaldi

Ana Carolina - Aqui


A única diferença entre um capricho
e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais....
(Oscar Wilde)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Cultivando Diariamente


Cultivando Diariamente...

Se observarmos bem, verificaremos que cada dia vem recheado de novas circunstâncias que em muito contribuem para nosso treinamento diário. Bem, é isso mesmo, a cada dia avançamos um pouco mais em nosso treinamento. Seja ele paciência, devoção aprimoramento do caráter, não importa.

Vamos entender melhor: primeiramente vamos concordar que a raiva é uma emoção destrutiva. Estou levantando este ponto porque algumas pessoas acham que a raiva é construtiva. Elas dizem: "Fulano me roubou. Eu tenho o direito de ficar com raiva. Foi bom que eu lhe dei um fora e o coloquei no seu lugar. Se não fosse por isto, ele iria montar em mim!" Assim, tentam justificar suas raivas.

Se pensarmos assim, não faremos nada a respeito da nossa raiva, porque acharemos que ela é benéfica. Mas, vamos dar uma olhada mais profunda e perguntar: quando estou com raiva, estou feliz? Alguém fica realmente feliz quando está aborrecido, irritado ou furioso? Ninguém fica. Se nos sentimos

infelizes quando estamos com raiva, como é que a raiva pode ser positiva? Qualidades positivas nos trazem felicidade, mas quando estamos com raiva, definitivamente estamos infelizes.

Examinando nossa própria experiência, vemos que a raiva traz muitas desvantagens. Quando estamos com raiva, fazemos e dizemos coisas que mais tarde lamentamos. A raiva nos faz perder o nosso controle, então falamos aos outros com crueldade; e podemos até mesmo ferir fisicamente aqueles a quem amamos. Cada um de nós tem um armazém oculto de eventos em nossas vidas que não gostaríamos de lembrar, porque estamos envergonhados da maneira como agimos naquelas ocasiões.

Às vezes nos indagamos porque os outros não gostam de nós. Pensamos que somos pessoas bastante boas! Mas se vermos a maneira como tratamos os outros, especialmente quando estamos com raiva, então fica claro porque eles não confiam em nós.

Lembre-se de uma situação em que tenha tido raiva. Saia por um momento de seus próprios sapatos e olhe a si mesmo do ponto de vista da outra pessoa. Veja o que disse e o que fez. Você foi uma pessoa querida naquela ocasião? Você foi gentil? Você gostaria de ser seu próprio amigo quando fica irascível?

A primeira teoria sobre a evolução das espécies é elaborada pelo naturalista francês Lamarck em 1809 (ano em que nasce Charles Darwin). A capacidade dos seres vivos de mudar e evoluir já havia sido observada e registrada por muitos estudiosos, mas é apenas com Lamarck que surge a primeira hipótese sistematizada.

Lamarck diz que os seres vivos evoluem "sem saltos ou cataclismos" de forma "lenta e segura". Para se adaptar melhor ao meio, os seres vivos se modificam a cada geração. A girafa, por exemplo, teria desenvolvido um pescoço comprido para se alimentar das folhas de árvores muito altas. Os órgãos que são menos usados atrofiam, de geração em geração, e desaparecem.

Bastaria afirmarmos que Evolução é o processo através no qual ocorrem as mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem a espécies novas.

A evolução tem suas bases fortemente corroboradas pelo estudo comparativo dos organismos, sejam fósseis ou atuais. Os tópicos mais importantes desse estudo serão apresentados de forma resumida.

Todo crescimento e mudança requer paciência. Um bom jardineiro sabe disso. Ele tem que respeitar o tempo, preparar o solo, plantar a semente, regar, e esperar para colher os frutos. Um jardineiro planta e espera que a natureza faça o resto em seu tempo. Isso é paciência. Em relacionamentos, a paciência é uma parte vital para crescer e mudar. É a habilidade de não desistir e permanecer disponível quando as mudanças em seu relacionamento não acontecem tão rápido quanto você queria. Durante uma relação, uma parceria se desenvolve, as pessoas aprendem, ficamos mais atentos e preocupados com o outro e as necessidades de cada um são descobertas.

Esperar que tudo aconteça como e quando você quer é irreal. Na natureza, cada ser vivo precisa de um tempo para florescer, amadurecer e dar frutos. Durante esse tempo, ele precisa ser alimentado e nutrido. Desenvolvimento humano é assim também. Das sementes da mudança até os frutos da manifestação, não importa se é o crescimento pessoal ou o crescimento de um relacionamento, paciência é necessária. O jardineiro continuará a cuidar do jardim mesmo que tempestades apareçam.

Em geral, paciência requer que você permita a si e a seu parceiro levar tempo para aprender e integrar novas maneiras de ser e agir. Saiba que haverá épocas de confusão e decepções, mas será tudo passageiro e não significam necessariamente que haja alguma coisa errada.

Todos nós sabemos que, para aprender qualquer coisa, a paciência é fundamental. Quem anda atrás de resultados rápidos tem sempre grandes dificuldades para aprender.

A paciência é uma prática tão difícil quanto a disciplina e a concentração. Estabelecer regras disciplinares e seguí-las será, inicialmente, muito difícil e aí a paciência desempenha um papel fundamental.

A prática da concentração parecerá impossível nas primeiras tentativas. Se não se sabe que tudo tem o seu tempo, se se quer forçar as coisas, então na verdade nunca se conseguirá sucesso em ficar concentrado ou em fazer as coisas de modo disciplinado.

Para se ter uma idéia do que a paciência é capaz, basta que se observe uma criança aprendendo a andar. Ela cai, torna a cair, cai outra vez, e, no entanto, continua tentando, melhorando, até que um dia anda sem cair. Imagine o que poderia o adulto realizar se tivesse a paciência da criança e a sua concentração nos objetivos que lhe são de importância!

Existem algumas análises interessantes de acordo com o Budismo.

Ser paciente com as pessoas que nos prejudicam significa ser passivo? Precisamos deixar que prevaleçam suas opiniões ou deixar que nos pisem?

Não. Podemos corrigir uma má situação sem antagonismos. Aliás, seremos mais efetivos agindo assim, quando estivermos calmos e com o pensamento claro.


Como um entusiasta do esporte, não será boa a raiva porque nos ajuda a ganhar o jogo? O esporte é uma boa maneira de soltar a raiva?

Sim, o esporte é uma maneira socialmente aceitável para soltar a raiva. No entanto, não cura a raiva, só libera temporariamente a energia física que acompanha a raiva. Mas, ainda estaremos evitando o verdadeiro problema, isto é, nossas emoções perturbadoras e conceitos equivocados com relação a uma situação.

Sim, a raiva pode ajudá-lo a ganhar o jogo, mas será isto realmente benéfico? Vale a pena reforçar esta característica negativa só para receber um troféu? O perigo no esporte é tornar o "nós e eles" muito concreto. "O meu time deve vencer. Temos de lutar e derrotar o inimigo."Mas, vamos recuar um momento. Porque deveríamos ganhar e o outro time perder? A única razão é a seguinte, "Meu time é melhor porque é meu." O outro time sente a mesma coisa. Quem está certo? A competição baseada em tal auto-centrismo não é produtiva porque gera raiva e ciúme.

Por outro lado, podemos nos concentrar no processo de jogar o jogo, e não no alvo de vencer. Neste caso, apreciaremos o exercício físico, a camaradagem e o espírito de equipe, seja vencendo ou perdendo. Psicologicamente, esta atitude traz mais felicidade.

Como devemos lidar com a raiva ao testemunhar uma pessoa prejudicando a outra?

Todas as técnicas descritas acima se aplicam aqui. No entanto, ser paciente não significa ser passivo. Podemos ter de agir para impedir que uma pessoa faça mal à outra, mas a chave é fazer isto com compaixão imparcial por todos na situação.

Dentro de uma visão espiritual racional (lógico que dentro dessa visão não é fácil colocar em prática essa teoria, mas raciocinemos...) é fácil ter compaixão pela vítima, mas a compaixão pelo criminoso é igualmente importante. Esta pessoa está criando a causa para o seu próprio sofrimento: mais tarde ele pode ser torturado pela culpa, ele pode ter problemas com a lei, e ele colherá os frutos kármicos de suas próprias ações. Reconhecendo os sofrimentos que ele está trazendo para si mesmo, poderemos desenvolver a compaixão por ele. Assim, com preocupação igual pela vítima e pelo criminoso, podemos agir para evitar que uma pessoa faça mal a outra.

Não precisamos estar com raiva para corrigir um erro. As ações movidas pela raiva podem complicar ainda mais a situação! Com uma mente clara, somos capazes de determinar mais facilmente o que podemos fazer para ajudar.


Como posso ajudar alguém que esteja criando karma negativo tendo raiva de mim?

Cada situação é diferente e deve ser examinada separadamente. No entanto, algumas linhas gerais podem ser aplicadas. Primeiro, devemos verificar se a queixa do outro a nosso respeito se justifica. Se sim, podemos nos desculpar e corrigir a situação. Isto cessa a raiva do outro. Em segundo lugar, quando alguém está muito aborrecido ou com raiva, tente acalmá-lo. Não argumente, porque no seu atual estado mental ele não pode ouvi-lo. Isto é compreensível: nós não ouvimos os outros quando estamos temperamentais. Portanto, é melhor ajudá-lo a se acalmar e mais tarde, talvez no dia seguinte, conversar.


O que devemos fazer quando somos alvos da crítica?

Isto é opinião deles. Eles têm o direito de tê-la. É claro que não concordamos com eles. Às vezes podemos conseguir corrigir o conceito equivocado do outro, mas às vezes as pessoas têm a mente muito estreita e não querem mudar suas opiniões. Isto é assunto deles. Simplesmente esqueça. Não precisamos da aprovação dos outros para praticar o *dharma, mas precisamos estar convencidos em nossos corações de que o que fazemos é certo. Se estivermos convencidos, então as opiniões dos outros não são importantes. Nós não precisamos ficar defensivos. Aliás, se ficarmos agitados quando os outros nos criticam, isto indica que estamos apegados às nossas crenças, que nosso ego está envolvido e portanto sentimos compelidos a provar que nossas crenças estão certas. Quando estamos seguros daquilo que acreditamos, as críticas dos outros não perturbam a nossa paz. Porque deveriam? Críticas não significam que nossas crenças estejam erradas, nem significa que nós somos estúpidos ou maus. É simplesmente a opinião de uma outra pessoa, só isso.

Jordan Augusto

* O Dharma ou Dhamma significa Lei Natural ou Realidade. Com respeito ao seu significado espiritual, pode ser considerado como o Caminho para a Verdade Superior. O Dharma é a base das filosofias, crenças e práticas que se originaram na Índia.

Jorge Vercilo - Encontro da Águas



Há males de que não se deve buscar a cura,
porque só eles nos protegem contra males mais graves.
Marcel Proust

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quando Nos Sentimos Frustrados


Quando Nos Sentimos Frustrados

Ao longo da vida passamos por situações, as mais variadas, que nos despertam diferentes emoções e sentimentos. Quando somos tomados por bons sentimentos, via de regra, nos sentimos plenos, leves e realizados. Achamos que a vida vale a pena, que as coisas caminham bem, e sentimos que podemos continuar a trilhar naquela direção.

Entretanto, quando somos tomados por sentimentos ditos "negativos", como raiva, ódio, ira, inveja, dentre outros, não gostamos das sensações despertadas. São sensações incômodas que, em geral, acordam "leões" adormecidos dentro de nós e nos levam a questionar o caminho que estamos seguindo. Podemos nos sentir perdidos, inseguros e assustados com a intensidade com que somos tomados pelas situações.

Quando isso acontece, nossa tendência é tentar anular esses sentimentos, seja pela supressão, repressão ou pela simples liberação (descarga) de tudo aquilo que estamos sentindo. Sentimo-nos frustrados e queremos que tudo aquilo passe logo. A dor sentida é grande e, então, temos medo de não agüentar e explodir, ou de nos perdermos no abismo profundo de nosso lado "negro".

Essas sensações desagradáveis despertadas são tanto mais insuportáveis de lidar conforme a capacidade que temos, ou não, de contê-las e transformá-las, de modo a se tornarem úteis para nós. Esse processo está ligado a nossa capacidade de tolerar frustrações.

Embora seja sempre muito desagradável a sensação causada pela frustração, podemos tirar partido dessa situação em prol de nosso desenvolvimento pessoal.

Você deve estar se perguntando, como sentimentos ruins e sensações desagradáveis podem se tornar úteis para nós de algum modo. Pois bem, eles não só podem, como são necessários para o amadurecimento psíquico e para a integração de nossa personalidade.

Por mais que lutemos contra, é fato que não somos só constituídos de sentimentos nobres e emoções agradáveis. Do mesmo modo, nem sempre conseguimos, em nossa vida, ter reações adequadas e socialmente aceitas. Entretanto, temos a tendência de tentar, a todo custo, evitar sentimentos desagradáveis, nos permitindo apenas "sentimentos nobres", "emoções prazerosas" e "reações mais adequadas".

Somos seres dinâmicos e, como tal, constituídos de luz e sombra, amor e ódio, paz e conflito. Existem camadas de nosso psiquismo e partes de nossa personalidade que ainda não conhecemos. O que há em nós de conhecido se contrapõe a tudo que não sabemos ou não tomamos contato, que é nossa sombra. E essa sombra nos constitui tanto quanto o que há de "luz" em nós. Sem ela, não somos inteiros, não estamos íntegros. Acabamos compondo só uma parte da história, como se houvesse só "mocinhos".

Entretanto, não há história completa sem "bandidos", que representam tudo aquilo que há de não-conhecido, não-aceito ou não-integrado em nós. Eles nos incomodam muito, e enquanto permanecem inconscientes, aprisionados em nosso "calabouço" psíquico, atuam sorrateiramente, provocando diferentes emoções, sensações, e reações muitas vezes impensadas, inesperadas, ou até mesmo compulsivas, que podem parecer sem sentido ou caminhando na contramão da nossa vontade consciente.

Se houver disponibilidade para encarar nossos próprios inimigos internos podemos nos surpreender com o resultado. "Dar vida" ao lado negro e obscuro de nossa personalidade, pode ser o caminho não só para que não sejamos pegos de calça curta por nossos "bandidos", como para que possamos integrá-los em nossa personalidade, enriquecendo nossa experiência emocional e propiciando o desenvolvimento psíquico.

Sempre que há frustração é útil nos perguntarmos o que, em nossas expectativas, não foi atendido. Não há frustração sem expectativa prévia.

Quando podemos nos deixar tomar pelas emoções desagradáveis e nos darmos o tempo necessário para o processamento, em nosso mundo interno, de tudo que nos é despertado por aquela situação, então, teremos condição de pensar sobre a experiência, tirando dela algum significado que pode vir a representar um ganho em termos de crescimento emocional.

Diante de situações de dor e frustração, podemos tentar, em primeiro lugar, sentir o que está vindo à tona. Conforme os sentimentos forem aparecendo, podemos nos questionar:

O que esses sentimentos despertados significam? O que eu esperava que não alcancei? O que essa frustração está me ensinando sobre meu mundo emocional e sobre o mundo emocional da outra pessoa com quem eu me relaciono nesse momento de dor? Quais são as crenças que tenho sobre mim, a vida, o prazer, o sucesso, os relacionamentos, e que essa situação só vem reafirmar?

Há algo que eu possa fazer por mim, nesse momento, para aliviar a carga dessa frustração? (desde que não seja ter outros comportamentos que, mais tarde, trarão mais arrependimento e frustração, como no caso da pessoa que começa a comer demais para tentar não sentir e não olhar para aquela dor, ou daquela que gasta todo seu orçamento mensal e depois se arrepende ficando com várias dívidas para acertar).

O que eu fiz ou como eu contribui para que o resultado da situação fosse esse? O que eu posso fazer para que, de uma outra vez, o resultado seja diferente? O que essa situação me acrescenta em termos de conhecimento sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os relacionamentos, de modo que eu possa me capacitar melhor para outras situações que a vida ainda me reserva?

Essas e outras questões podem nos ajudar a lidar com a sensação de frustração.

Se observarmos mais a fundo, veremos que muitas vezes deixamos de viver e esperar, desejar e sonhar na vida, com medo da frustração. Quando temos pouco ou quase nenhum contato com nosso mundo emocional nos assustamos com o que sentimos diante da frustração e temos medo de não encontrarmos sustentação e aparato internos para lidar com a situação. Sentimos que não há esperança.

Na tentativa de nos livrarmos da dor, tendemos a nos anestesiar e nos refugiar em algum espaço dentro de nós onde nos sintamos seguros. Buscando evitar sofrimento, deixamos de viver, e assim, sem perceber, seguimos como "mortos-vivos", sem nos envolver diretamente em nada, seja um trabalho, um projeto, um relacionamento, um tratamento, etc.

O fato é que, assim, estamos evitando a própria vida, abrindo mão de vivê-la. Se algum projeto, trabalho, relacionamento ou tratamento teria alguma chance de dar certo, de trazer prazer, bem-estar e realização, nunca saberemos, porque diante do temor de não conseguir ou perder, estamos escolhendo não tentar.

A fuga das emoções e sentimentos negativos é uma escolha que nos tira do contato verdadeiro com nosso ser, nos afasta de quem somos e nos deixa cada vez mais esvaziados. No final das contas, ao contrário do que possa parecer, evitar nossas emoções negativas, nos deixa frustrados e sem sentido para a vida.

Só o contato real e verdadeiro com tudo o que há de mais vivo em nosso íntimo, sejam emoções agradáveis ou desagradáveis, sentimentos "nobres" ou "mesquinhos", permite que nos sintamos seres inteiros e fortalecidos, fazendo dos momentos de dor e crise, oportunidades para o crescimento e transformação, no caminho de uma vida mais plena e feliz.

Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista

Tony Braxton - Unbrake My Heart


Viver é enfrentar um problema atrás do outro.
O modo como você o encara é que faz a diferença.
(Benjamin Franklin)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Valor Do Silêncio


O Valor Do Silêncio

Existem ocasiões na vida em que o silêncio é a melhor resposta...

No decorrer de nossa vida, muitas vezes sofremos ataques injustos, ofensas, e até mesmo somos vítimas de calúnias, fatos provocados por momentos de raiva de algumas pessoas, que, com motivo ou não, se acham no direito de nos atacar. Quem não já passou por momentos assim? Sempre existem pessoas que se comprazem em agredir alguém.

Que fazer nesses momentos? Nosso primeiro impulso é revidar, devolvendo as violências e as ofensas à altura, dando assim início a um círculo vicioso sem fim, pois sempre atos violentos, geram uma resposta de igual ou maior violência.

Se tais ataques representarem iminente perigo para nossa integridade física, claro que deveremos armar um esquema de defesa. Contudo, se forem ataques meramente verbais, cuja resposta poderá originar uma discussão que poderá ir num crescendo, podendo levar a conseqüências tristes, penso que a melhor política é a do silêncio.

Simplesmente ignorar os ataques, dando tempo para a pessoa refletir e possivelmente cair em si, e chegar à conclusão de que tais atitudes não levam a nada. E as reveja.

Bem a propósito, recebi de uma amiga, uma citação do Dalai Lama, colhida no livro "O Caminho da Tranqüilidade". Vejam que beleza:

"Descobri que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes, maior o nosso próprio bem-estar. Ao cultivarmos um sentimento profundo e carinhoso pelos outros, passamos automaticamente para um estado de serenidade. Esta é a principal fonte da felicidade."

Realmente, esta mensagem nos leva a uma reflexão profunda. Se tivermos dentro de nós pensamentos negativos, atitudes de raiva e revide, estaremos prejudicando nossa própria paz interior. E essa paz interior deve sempre ser preservada.

Se, pelo contrário, tivermos pensamentos positivos, voltados para a compaixão, estaremos trabalhando em prol de nossa paz interior. E esse é nosso principal objetivo, sermos felizes. Nessa linha de pensamento, a vida se torna muito mais produtiva, e sempre seremos olhados com simpatia e seremos benquistos.

Cultivando ódios fica mais difícil conseguir isso, não tenham dúvidas.

Nem sempre é fácil "deixar prá lá" uma ofensa recebida. Mas experimentem fazê-lo, ao invés de revidar. Mesmo que o desafeto não caia em si e reconheça o erro, pelo menos a disputa não terá seqüência.

Por vezes a pessoa renova os ataques, mas uma hora se cansa, vendo que não há resposta, que não se cria a polêmica desejada, e isso fatalmente fará com que ela perca o interesse pela briga. Então... conseguiremos a paz. E o outro lado também acabará encontrando a paz, não tenham dúvidas.

Essa é a questão.

Pergunta-se o que pode levar uma pessoa desejar o mal de outra. Isso requer um estudo muito profundo sobre a personalidade humana, pois são tantas as razões que podem provocar o despertar de sentimentos negativos que chega a ser impossível chegar-se a uma conclusão.

Pode ser um amor não correspondido. Pode ser uma possível ameaça a uma eventual situação de liderança, pode ser inveja por prestígio adquirido, pode ser antipatia gratuita, pode ser uma situação de momento, pode ser intriga de outras pessoas, pode ser o que nem sempre pode ser...

Enfim, são tantas as situações que podem levar uma amizade ao fim, que podem provocar situação de desentendimento, que seria muito cansativo enumerá-las todas.

O importante é que tenhamos em nosso interior um desejo de paz. Não digo que devemos perdoar a quem nos ofendeu e reatar laços de amizade violentamente rompidos, pois isso já exigiria uma preparação espiritual um pouco acima de nossa condição de pessoas normais. Basta esquecermos o ocorrido, e já daremos um grande passo para nosso bem estar interior. E de nosso desafeto também.

Marcial Armando Salaverry

Chris De Burgh - Lady In Red


Há momentos na vida,
em que se deveria calar e deixar
que o silêncio falasse ao coração, pois há emoções
que as palavras não sabem traduzir!
(Jacques Prévert)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre Estar Sozinho


Sobre Estar Sozinho

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.

Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.

Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.

Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

Flavio Gikovate


Patrícia Marx - Quando Chove


Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável; quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase incurável.(Augusto Cury)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Ciúme? Que Tal Amar Mais A Si Mesma?



Ciúme? Que Tal Amar Mais A Si Mesma?

Todos os homens e mulheres possuem uma necessidade igual de amor.

Mas quando começa haver falta de intimidade, diálogo, amizade, cumplicidade, respeito, sentimentos básicos dos relacionamentos, sente-se que esse amor pode estar correndo riscos, sendo natural surgir a insegurança e com ela, o ciúme, como uma tentativa de preservar aquilo que não se quer perder.

O ciúme atinge homens e mulheres. Dizem que é mais comum no sexo feminino, talvez seja porque a mulher demonstre muito mais o que sente, sem se esconder atrás de máscaras e defesas.

Falam hoje de ciúme como se a pessoa se tornasse doente do nada, e não é bem assim que acontece. O ciúme não começa do nada, há todo um processo como em qualquer doença. Primeiro começa haver um afastamento, acúmulos de mágoas, as desculpas para não fazerem juntos o que antes era feito, não há mais demonstrações de amor, interesse pela vida do outro e/ou do casal, gerando muita insegurança.

"Geralmente, por trás de uma manifestação de ciúme, há um apelo para o amor."

Com o tempo, isso vai somando-se e começa a surgir a necessidade natural de se entender o que está acontecendo. Geralmente há uma tentativa de conversa, onde a resposta em geral é: nada, nada está acontecendo! Ninguém muda seus comportamentos por "nada". Mas por qual motivo o ciúme começa na relação?

A melhor forma de tirar uma pessoa do controle é a incoerência, ou seja, demonstrar um sentimento e sentir outro. Começa então o desejo de agradar mais o parceiro, como se fosse culpada do que está acontecendo. É nesse momento que começam as cobranças, o controle, numa tentativa, de trazê-lo de volta.

O medo da traição começa a perturbar como se as imagens de sua mente fossem reais. O outro, sentindo-se cobrado, pressionado, afasta-se ainda mais, despertando insegurança e ciúme. É aí que começa uma bola de neve, quanto mais um se afasta, mais o outro tenta se aproximar.

O ciúme surge quando se sente que não é mais importante para o outro, é uma sensação de ser preterida, como se seus sentimentos não tivessem mais valor. Além do que, o ciúme humilha, esmaga, dói, por isso talvez seja tão difícil admiti-lo. E quem não admite que tem um problema continua se auto-destruindo e destruindo a relação. Não confiar no amor da pessoa amada equivale a não confiar no próprio valor.

É claro que quem já era insegura por não confiar em si, não acreditar que alguém possa amá-la, sente um medo terrível do abandono, pois sua carência faz com que tenha uma auto-imagem muito negativa, reforçando o medo de que qualquer pessoa poderá afastar a pessoa amada. É o retrato da co-dependência, uma síndrome que tem como um dos sintomas o medo de ser abandonada. Assim, terá menos estrutura de lidar com a situação, levando ao total desespero e descontrole, trazendo muitas vezes à tona conflitos não resolvidos.

Porém, uma pessoa que já era insegura, se tiver um relacionamento com alguém amoroso, que seja capaz de suportar seus sentimentos e suprir suas necessidades, pode com o tempo, perceber-se como alguém digna de amor e respeito, conseguindo aos poucos reparar suas feridas emocionais e traumas vividos, tornando-se uma pessoa mais segura de si.

O que é importante entender é que o ciúme é muito mais um sintoma do que uma causa, pois geralmente, por trás de uma manifestação de ciúme há um apelo para o amor, que pode ser o amor e a atenção do outro, mas que na verdade, representa a busca pelo amor por si mesma. Como não há a consciência disso, continua acreditando que só existe através do outro.

Não seria melhor que as pessoas usassem mais da verdade em suas relações? Não ama mais, não deseja mais? Por que não falar? Por que deixar o outro chegar a ponto de alucinar em suas fantasias na ânsia de respostas para o que está acontecendo na relação? Justificar a mentira ou omissão do que está acontecendo, dizendo que o outro não tem estrutura para suportar a verdade, não é mais aceitável, pois o que enfurece uma pessoa não é a verdade, mas as mentiras que se ouve até chegar na verdade.

Nesse momento soma-se ainda: baixa auto-estima, falta de amor-próprio, insegurança, necessidade de reconhecimento. Mas se as crises de ciúmes já viraram rotina na relação, é possível fazer algo para mudar. Não há alternativas senão a busca por uma mudança interna, que só é possível através do auto-conhecimento, onde o mais indicado é sempre a busca de um profissional competente para se iniciar um processo de psicoterapia, ou ainda, os grupos de auto-ajuda.

É preciso entender que um pode ser muito importante para o outro, mas não mais importante que para si mesmo. Não é possível amar ao outro mais do que nos amamos. Todos se orgulham muito de ter alguém para amar, mas não se preocupam nenhum pouco com a importância vital que há em relação ao próprio amor.

Quando a relação é vivida com amor e os dois querem mantê-la, é possível buscar um tratamento e transformar o que é doente em saudável. E para começar esse processo, é importante:

- Admitir que não está conseguindo ter controle sob suas emoções.

- Escrever sobre os próprios sentimentos - ajuda a compreender o que está sentindo.

- Buscar ajuda de um profissional.

- Auto-conhecimento.

- Reconhecer que a relação está doente, como reflexo de um ou dos dois.

- Reconhecer que os dois devem mudar.

- Conversar, conversar, conversar. O diálogo deve estar sempre presente.

- Verbalizar o que sente, sempre.

- Empatia, ou seja, desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro.

- Respeitar os sentimentos do outro, ainda que não os sinta.

- A verdade, sempre.

- Cada um fazer uma análise do seu histórico de vida, principalmente infância.

- Buscar possíveis origens das dificuldades atuais.

- Comprometer-se consigo mesmo com as mudanças.

- Demonstrar diariamente para o outro o quanto é importante.

- Cuidar de si como cuidaria de alguém que ama.

- Cuidar do outro como se cuida de alguém que ama.

- Cuidar da relação afetiva como que cuida de um bebê, com atenção, afeto, carinho, enfim, com demonstrações diárias de amor.

Faça uma análise de seus próprios sentimentos em relação a si mesma, e as possíveis origens de sua insegurança, depois analise seu relacionamento, como ele está e como gostaria que fosse e converse tudo isso com seu parceiro, você e ele só têm a ganhar!

Rosemeire Zago

Ana Carolina - Quem de Nós Dois


É fácil amar os que estão longe.
Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado.
(Madre Teresa de Calcutá)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Felicidade É Cair Na Real


Felicidade É Cair Na Real

Vida não é ilusão! Vivemos uma ditadura de felicidade, uma confusão generalizada entre sonho e ilusão. Sonho é um desejo veemente. Ilusão é o engano do sentido e da mente. O psicólogo americano Steven Hayes, casado com a gaúcha Jacqueline Pistorello, também psicóloga, vira a mesa desse distúrbio moderno: ensinar as pessoas a se livrarem de pensamentos e sentimentos negativos.

Em seu novo livro ''Saia de Sua Mente e Entre em sua Vida'', Hayes diz que é preciso aceitar a dor e o sofrimento como parte da vida. A verdade é que estamos criando uma geração de ''cascas finas''. Uma juventude, crianças, sociedade que acredita que o mundo existe para satisfazê-los, e não para ser satisfeito. Nas empresas existe uma onda ''moderna'' de que a paz, harmonia e a ''alegria'', o trabalhar pouco, o só fazer o que gosta é o que promove o crescimento e os lugares realmente prazeirosos para trabalhar.

O filho de um grande amigo meu foi despedido de uma importante empresa. Ele veio reclamar que a razão era porque seu filho era muito alegre, feliz, sorridente, sempre de ''alto astral'', e que algumas empresas não toleram isso. Como tinha relacionamentos naquela companhia fui investigar sutilmente. Descobri a verdade: nada disso. A razão do desligamento era a falta de concentração, de compromisso com o trabalho, de um comportamento imaturo e de permanente espírito ''rave''. Entretanto o meu amigo saiu em defesa do filhão, continuando ''fora da real''.

Outro mito e rito atual é o de ficar pouco tempo nas empresas, girar e girar, trocando muito de posição. Imagine só, se é difícil você conhecer os segredos e saber como se ganha dinheiro em qualquer atividade competitiva, mesmo com 10 anos de vivência, pense em alguém saltando daqui para ali a cada ano e meio! Será , na melhor das hipóteses, um brilhante saltador de obstáculos, jamais um líder e consciente profissional. Novamente, aos 24 anos fará pouca diferença, mas, a partir dos 34 sua falta de solidez e conteúdo o deixará com ''pernas de geléia'' ao modelo do pequeno Bambi.

Nos relacionamentos afetivos, cada vez mais superficiais, o ''ficar'', o alto ''turn-over'' de parceiros, o ''envolver-se para quê?'' é uma constante. Então, ao invés de conhecermos profundamente outra pessoa, conhecemos superficialmente 100 pessoas: ilusão, só estamos entorpecidos, anestesiados e ''drogados'', brincando de pula-pula nas experiências da vida. O problema não é você fazer isso aos 16 anos. O real drama é continuar fazendo isso aos 66!

Nas escolas a ordem é agradar ao aluno. Um professor mais severo e determinado a ensinar com a dureza que forja líderes será bombardeado por pais e mães super-protetores. Tudo terá como desculpa a evolução e a modernidade. Outro dia minha filha Luciana de 8 anos veio reclamando da professora de alemão. Disse que era uma senhora idosa e muito severa e brava. Ela estava acostumada com outra doce e meiga. E daí? perguntei.

Na vida existem doces, amargos, salgados, espinhudos, macios. Cabe a cada um de nós exercitarmos nossas vivências para conviver com toda essa realidade externa. Agora pense, disse para a pequena Luciana, se você não conseguir estudar e conquistar essa senhora de cabelos brancos, que está lá para ensinar você, como acredita que irá enfrentar uma verdadeira situação de agressão quando crescer?

A mesma coisa acontece com nosso sentido de beleza, de cidade, de país , de mundo e de vida. Se você não é a Xuxa, procure ser Marlene Mattos e pare de reclamar. Se você não gosta da sua cidade, do seu país, pergunte: o que eu faço para melhorar o meu lugar, organizar, contribuir, mudar o mundo lá fora, versus fugir para a Austrália, Fort Lauderdale ou a Patagônia, e terminar com os olhos cheios de lágrimas quando alguém menciona a palavra Brasil?

Tem gente que não aceita o mundo por não querer beijar a sua realidade. Vive no planeta terra mas pensa estar em Marte. Corre atrás de ET's quando os amores da vida presente lhes escapam ao sentimento e à mente. Não fuja do que você sente. Não tente escapar das ''pegadinhas'' da vida, pois elas sempre existirão, enfrente-as.

Se os ''moleques'' não deixam você vender sorvetes, por que te roubam e te batem, faça como nosso novo campeão, o Sertão - pugilista: vai aprender boxe para não apanhar deles, e olha só, um dia fica famoso no mundo inteiro! Porém, se o caminho for o da ilusão o da falsa felicidade, iluda-se como um monte de ladrões, roubando, entregando a vida e matando para pagar griffes, ouro no pescoço - e um dia , bem cedo, deixar sua cabeça cortada em vão.

A morte é certa e não vale a angústia do medo. No mínimo depois da morte viveremos igualzinho ao que vivíamos antes de nascer... você não se lembra mais?

Felicidade é cair na real, não confundir sonho com ilusão e realizar duas coisas fundamentais: Conhecer o planeta terra , o mais fácil, e a si mesmo, o mais difícil. Em síntese: existir, aprendendo velozmente com a existência.

José Luiz Tejon

Hansons - Save Me


Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento
simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora
por não perceber sua simplicidade.
(Mário Quintana)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Decepção: Dá, Mas Passa!


Decepção: Dá, Mas Passa!

Decepção. Esta palavra não me sai da cabeça. Nem do coração. Ela vem de todos os lados, vestida com diferentes roupas, porém, sempre com a mesma cor. Uma espécie de cinza, meio marrom, sem brilho e sem graça. Mas como lidar com esse sentimento tão ruim e tão comum?

No dicionário, “decepção” quer dizer: malogro (insucesso, fim) de uma esperança; desilusão, desengano. É isso! É e-xa-ta-men-te isso!

Durante toda a vida, a gente aprende regrinhas de comportamento - isso pode, isso não pode -, aprende biologia, trigonometria, aprende a cozinhar (ou não), a camuflar os sentimentos e até a mentir para não magoar. Tudo isso para ser a “boazinha”. Mas ninguém te ensina o que fazer quando dá tudo errado e esse sentimento surge, certo? O preço que temos de pagar mais tarde, quando enxergamos a vida com mais clareza, é muitíssimo alto.

Dá, mas passa. Todo mundo tem. A decepção, normalmente, não vem sozinha. Vem acompanhada de muita raiva (que nem sempre detectamos, porque menina boazinha não sente isso) e de insegurança. Afinal, se deu errado até aqui, quem garante que vai melhorar? Reverter esse mal, assumir o seu verdadeiro eu, explodir a sua vontade são trabalhos que demandam muita energia. Mas nunca é tarde para zerar o cronômetro e, de novo, ir à luta. Atitude, aliás, que exige coragem.

Quando você é criança, te ensinam a sonhar com uma vida cor-de-rosa, mas ninguém sabe o que fazer se essa vida não vier. A sua sonhada carreira ou aquela família “propaganda de margarina” que, aos 20 anos, eram uma certeza, hoje, aos 30 e tantos... Cadê? Tudo vira uma sucessão de enganos e você, uma neurótica ansiosa. Até que um dia você se pergunta: por que foi mesmo que eu escolhi essa profissão? Não sei. Alguém sabe onde posso comprar um manual que desvende os mistérios do cérebro? Sim, porque euzinha já desisti de entender.

Quando você é mais nova, acredita que só tem um caminho: dar certo. Mas não dá e, aí, você tem duas opções: manter-se frustrada e infeliz, patinando em gelo seco ou... Recomeçar

Essa é a minha palavra preferida. Eu sempre disse que tenho um pouco de fênix, estou sempre renascendo, refazendo, recomeçando, porque eu quero ser feliz. Devo admitir que isso também exige muito de energia e esperança, mas prefiro morrer tentando.

Mudar de idéia, que, segundo um amigo meu, é sinal de inteligência, é permitido sim. Parar, quando tudo dá errado, e reavaliar, fechar os olhos e sentir o coração antes de tomar uma decisão, tudo isso é permitido quando o assunto é a sua felicidade. Portanto, se você encontra-se nessa situação:

Pare de ouvir os outros, principalmente aqueles que dizem que você está velha para mudar de rumo – isso não existe!

Não jogue o sentimento para debaixo do tapete, isso não vai eliminá-lo!

Seja absolutamente honesta com você mesma: o que você quer, o que você sente, o que fez errado de verdade, como pode mudar – e acredite, você pode!

Veja, isso está longe de ser uma receita ou uma sessão de terapia. São apenas toques que servem para mim, que aprendi: a decepção dá, mas passa!

Cris Negrão

Diana krall - The Look Of Love



Uma coisa é você achar que está no caminho certo,
outra é achar que o seu caminho é o único.
Nunca podemos julgar a vida dos outros,
porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia...
(Paulo Coelho)